quarta-feira, junho 28

em.terra.de.surdo

Acho que é o frio que atrapalhou as coisas aqui dentro, não sei bem o que. Só sei que me peguei gastando a gélida noite de quarta-feira me lambuzando com uma bela pizza congelada, e assistindo ao espetaculoso programa 'Ídolos', no paleozóico Sistema Brasileiro de Televisão. Deprimente, claro, mas não tanto quanto a vexatória apresentação de novos talentos que eu vi.

Vou evitar entrar em colocações técnicas - ainda mais eu, o cantor mais desafinado de chuveiros com cortininhas que colam na bunda do planeta - e olha que eu tenho tino para detonar notas desafinadas, extensão de voz de tuberculosos e finais de frase miados ao melhor estilo Léo Aquila. Não vale a pena entrar no mérito.

Só me dediquei a ligar o computador e digitar essas linhas porque a vida mais uma vez não deixa de me surpreender, e deixou meus beiços mais lambuzados que o azeite da minha refeição. Entre uma apresentação razoável [leia-se algo que se pode ouvir sem se desejar um ferro com tétano atravessando o tímpano] outras medíocres, e umas ainda ruins como descritas acima, vi um candidato, pobrezinho, pedindo votos aos seus fãs deficientes auditivos! Sim, ele tem um fã-clube dentro de um grupo de ajuda a surdos.

Estranhamente ele estava longe de ser o pior do programa, mas foi o mais detonado pelos deslumbrados jurados, e temendo ser o próximo excluído do programa, tirou uma carta da manga e em gestos e palavras, apelou para aqueles que podem apenas vê-lo, mas que nunca tiveram o desprazer de ouvir a ele ou aos outros. A sirene da bizarrice cotidiana disparou aqui na minha cabeça, enquanto um sentimento doído tomava conta de mim. Resolvi escrever para aliviar esse nó na garganta.

Nem escrevo mais nada, porque agora estou com o cérebro pipocando em idéias geniais que vou colocar em prática já. Vou acionar meu querido Google para ajudar minha tia cega e procurar um curso de formação para juízes de saltos ornamentais. Que tal?

Vergonha alheia é a palavra, minha gente. Vergonha alheia.