sexta-feira, fevereiro 10

super.estar

Tudo bem, eu confesso. Talvez por andar numa fase um pouco turbulenta, tenho me refugiado em distrações fáceis e risíveis como a TV. Há uns dois anos assinei minha carta de euforria, e dei-lhe um pé na bunda ao digníssimo e falecido Sr. Marinho, e desliguei de vez minha linda e prateada TV a cores [lembra quando isso era um sonho inalcançável?] Mas essa semana me dei ao luxo de me dominar pela futilidade cultural e pesquei detalhes no mínimo interessantes da degradação do ser humano.

Depois de uma rápida escorregadela pelo BBB [comentários pejorativos aqui ficam a cargo do leitor] e das simbioses musicais citadas anteriormente, acabei por me deleitar com a espinafração pública de pessoas idiotas em American Idol. Que os americanos são os maiores cretinos do planeta, isso já é sabido. Agora, que eles agora entraram no mercado de 'stupidity inc.' é uma novidade deliciosa. Até a burrice e a falta de auto-crítica agora virou fonte de renda.

Primeiro vemos um bailarino em botas de cowboy [feitas para dançar, tanto quanto para andar]. Essa onda de Brokeback Mountain ainda pega. O sujeito desmunheca, abre espacate, faz a Nadia Comaneci, e na hora que abre a boca.... Corro para pegar meus protetores de ouvido.

Uma outra revela toda sua idolatria à jurada Paula Abdul, mostra seus desenhos da cantora feitos ao longo da vida, ainda veste-se e chama-se com a própria. Depois de relinchar despudoradamente no teste e ser rechaçada pela xará, a moça adquire um viés demoníaco e só falta fazer um vodu com a pobre jurada.

Alguns bons, alguns ruins, muitos muito ruins, eis que vemos uma menina, coitada, inocente e sonhadora. Ela tem certeza que ela é a próxima estrela da música americana. Por que? 'Porque eu posso ser, tipo, a pessoa mais famosa da America' Ou seja, razões ela tem de sobra, quase um doutorado a respeito, a oratória eu nem vou comentar. Devo dizer, em muitos aspectos, a querida se assemelha ao gaulês Obelix: um barril de sarja vermelho vestido até as gordas axilas e duas longas trancinhas de cabelos descoloridos [e mal cuidados] descendo do topo de sua testa.

Pois ela chega, convencida e espirituosa, à frente dos rígidos jurados, para deleitarnos com uma interpretação pós-pós-moderna de Ain't no mountain high enough. Tão pós-pós que ela quase perde o sentido musical e se alonga por uma única e desafinada nota. Destruída, ela sai furiosa, tenta bater a porta para mostrar sua indignação [a porta, por ter mola, não chega nem perto de fazer ruído] e se joga em um choro infantil no colo da mãe. Eu daria um soco na mãe por ser tão cara-de-pau a ponto de insentivar a filha a passar por tamanho ridículo. Espetáculos da vida, minha gente.

Sim, eu tenho coração mole e sinto uma ponta de pena pelas pessoas que saem com os corações partidos daquele matadouro. Mas eu mesmo tempo me pergunto como uma pessoa como muitas daquelas, se olham no espelho de manhã, desafinam horrores no banheiro, e dizem para si mesmas: hoje eu vou para a TV nacional e vou ser um sucesso! Eu, que sou cético, ateu e cínico, gosto de como eu canto. Mas daí a me arriscar a cantar na frente de pessoas, dependo de alguns itens:

- um karaokê bem vagabundo
- pessoas pagando mico junto a mim
- álcool
- álcool
- mais álcool.

Como se pode ver, eu não incluo nos meus maiores disparates musicais nenhuma câmera de TV, nenhum astro do mundo pop do começo dos anos 90, nem uma linha telefônica exclusiva para a minha execração pública. Talvez o ingênuo seja eu, porque se me lembro bem, um certo coreano de uma versão anterior, depois de uma antológica e performática apresentação de uma música do Ricki Martin, gravou um CD e fez uma tourneé pelo país dos 15 minutos de fama.

Estaria eu perdendo a minha oportunidade?

5 Comments:

Blogger Marshall escreve...

nossa, tá filosofando? hehe

4:55 PM  
Anonymous Anônimo escreve...

Quando aquela valkíria viking fechou a porta acho que não foi a mola que não deixou bater... acho que a porta pegou na anca dela mesmo...

6:51 PM  
Anonymous Anônimo escreve...

Videokê, ácool e muita pagação de mico?!
Tô dentro!!!
Na próxima faça o favor d eme convidar!!!

Beijinhos

3:24 AM  
Blogger Fonseca escreve...

A tv é boa. Ela é nossa amiga. Nossa amiga.

7:33 PM  
Anonymous Anônimo escreve...

Uma bela crônica, me identifiquei um pouco com ela.

http://dudu.oliva.uol.com.br

12:45 PM  

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