segunda-feira, janeiro 2

minhas.fërias

Como tive uns dias livres do Natal até agora, tive tempo de por o cafofo em ordem, e sempre que se mexe nos entulhos acumulados durante anos no armário corre-se o risco de se encontrar com um monte de lembranças perigosas. Umas a gente queria esquecer, mas elas pipocam vez ou outra na memória trazendo a bile amarga do passado, clara como se fosse ontem. Outras, por levarnos a tempos felizes que o nosso descaso deixa pelo caminho, nos enchem de nostalgia, e essa nos leva à melacolia das comparações entre passado e presente.

Hoje sei que estou mais próximo da pessoa que sempre quis ser - e ainda quero - e no passado sempre fui muito amargurado pela distância gritante entre atos e vontades. Mesmo assim, fui acometido por um turbilhão do segundo tipo de recordações. Desde então, já há uma boa semana, o saudosismo me arrasta e eu me sinto bege.

Algumas pessoas fundamentais tiveram presença marcante nesse fim de ano, e me fizeram mais feliz, mas no geral tenho estado meio catatônico e inerte. Deixei de fazer programas por achar que minha companhia não seria agradável, algo constante antigamente. Até quem me deve atenção anda um tanto blasé comigo. Isso me derruba ainda mais. Ponho a culpa no cansaço, na falta de grana [como se eu fosse o único], mas nada justifica aquela pontinha de descontentamento que fica latejando na minha cabeça supostamente feliz e satisfeita.

Conhecendo-me, sei que isso é necessidade de mudança. Já passei por muitas, radicais. Todas desencadeadas por mim mesmo. Mas agora estou particularmente perdido. Assim gasto uma segunda-feira incrivelmente morosa, com uma chuva besta que me lembra que eu ainda gosto muito da minha cama, aplastado pela melancolia e pela voz suave e envolvente de Hope Sandoval.