sexta-feira, dezembro 2

a.morte

Começar um blog é um problema. Difícil encontrar um assunto interessante o suficiente que me faça acreditar que vale a pena dar continuidade a mais esse projeto internético.

Solução: não começar! Ou melhor, começar pelo fim. Por isso a escolha desse tema: a morte

Esta semana estava aí pela cidade com a Vitória em mais uma de nossas conversas intimistas, daquelas que o que é dito morre na boca e ouvidos dos presentes, e entre lamúrias de namorados, dinheiro, família, trabalho, terminamos nosso rendez-vous falando de morte. Já temi a morte, hoje me interesso por ela. Até me divirto um pouco com a relação que as pessoas têm com a única e absoluta verdade da vida.

Não gosto de pensar que devemos esperar algo para "o depois". A morte é o evento culminante de nossa existência. Por que não considerar que ali atingimos o clímax, para depois não precisarmos mais assistir aquela descendente desanimadora que segue qualquer ponto alto? Acabou, acabou. Para os que ficam, bom resto de vida, eu já não sou nada além de memória para os mais nostálgicos.

Já disse para alguns próximos: se eu um dia ficar em estado vegetativo, por favor, sem titubear, press the power button, me deixem em paz. Que coisa mais humilhante ficer largado em uma cama como foco central do sofrimento alheio. Não, não! Desliguemas luzes, dêem um último beijo em meus lábios e adeus. Da mesma forma, também não quero ser enterrado. A cidade já está bastante ocupada para a gente continuar largando caixotes de madeira para decomposição em valas coletivas. E mesmo essa história de cremar e espalhar cinzas em lugar significativo me soa esquizofrênico. O cadáver é algo que não consigo estabelecer nenhuma relação com o que ele era quando vivo. Quero que me cremem, varram a poeira como se faz com a sujeira da sala uma vez por semana (ou duas, dependento do teu asseamento), joguem tudo na lata de lixo e pronto. Quer fazer homenagem, põe uma foto minha em cima da lareira, tá bom demais. Mas eu me contento com alguns poucos sorrisos desencadeados pela mera lembrança da minha pessoa.

Pois a Vic me contou que ainda não tinha digerido uma história. Sua avó havia morrido há alguns poucos meses, e diga-se de passagem, uma morte da mais poética e agradável que já ouvi falar. Pois em um evento recenete, lá estava ela com alguns amigos, quando sentiu um certo mal estar e foi até o bar pegar uma água. Nesse intante aparece um ser desconhecido negro de dois metros de músculo e pele lustrosa e diz: "Sei que sua avó morreu, mas não se preocupe porque ela está bem." O ser vira as costas e a deixa desnorteada sozinha.

Ela me disse que ainda não tinha digerido a história, que ainda lhe parecia tudo muito estranho. Eu não. Achei no mínimo fantástico. Lindo, lindo, lindo. Quem me dera receber um telegrama do além desse jeito, e ainda com uma notícia boa! Pois se o além existe mesmo, que ele só me venha mesmo com informações felizes. Chega de desgraça. Sou daqueles que se cruza com um fantasma, vou pelo menos tentar me apresentar e trocar uma idéia com ele.

Nesse meio tempo, vou vivendo achando que o que quero fazer tem que ser feito agora. Para que esperar um possível encarnação para por em prática meus desejos?